1

2

3

4

ANUNCIO TOK DE CLASSE

Chopin, ao se despedir de Maria Wodzińska, dedicou a ela a Valsa do Adeus, que foi escrita lá bemol maior. Em música, a tonalidade maior é feita para festas e a menor é feita para despedidas. Chopin compôs a Valsa do Adeus em tonalidade maior, que é uma escala feliz. Músicas e despedidas, porém, autorizam variações, porque são sentimentos com tons, intensidade e expressões diferentes. Assim é a vida! Assim é o abraço que lhes entrego nesse momento. Parto, simplesmente!”.
Com essa fala emocionada, a decana do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região, desembargadora Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro, terminou o seu último discurso como integrante da Corte trabalhista do Rio Grande do Norte. Após mais de 38 anos como magistrada, Perpétuo Wanderley viu o Pleno do TRT-RN lotado para a sessão solene em sua homenagem por ocasião de aposentadoria.
Nascida no dia 19 de agosto de 1950, na cidade de Assu, no Rio Grande do Norte, Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro chegou à Justiça do Trabalho em 1987. Foi por duas vezes desembargadora presidente do TRT-RN e exerceu, também, a direção da Escola Judicial (Ejud-21).
“Vejo aqui minha família, colegas da Academia, colegas de uma vida, juízes e juízas, servidores e servidoras, amigos e amigas. Ao pessoal do Gabinete digo que: não nos despedimos, porque não há despedida. Levo vocês em meu coração”, revelou a desembargadora, que quebrou o protocolo ao citar cada desembargador e desembargadora que compõem a Corte do TRT-RN. “É a última vez que os chamo como colegas e companheiros de jornada, por isso precisava nomeá-los”, disse.
“Olho a sala e me emociono muito. O coração está passeando em cada rosto, se debruçando em cada olhar”, declarou e ao ver a desembargadora aposentada do TRT-RN Maria de Lurdes Alves Leite, Perpétuo Wanderley disse: “Desembargadora de hoje e de ontem. Agora, eu passo para o seu lado para ser do ontem”, brincou.
Homenagens
O presidente do TRT-RN, desembargador Eduardo Serrano da Rocha, representou a Corte trabalhista do Rio Grande do Norte na sessão solene de despedida da decana, Perpétuo Wanderley.
“Despedimo-nos, nesta sessão solene, da desembargadora Perpétuo Wanderley, que se aposenta da magistratura após décadas de vida pública exemplar. E o fazemos com o coração cheio de orgulho, mas também tomados por uma doce melancolia — porque não é apenas uma jurista que se despede. É, como bem disse certa vez Guimarães Rosa, “o correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. E coragem foi o que nunca lhe faltou”, disse o presidente.
Ensinamentos
Ainda nas homenagens, falaram o juiz Cacio Manoel, presidente da Associação de Magistrados do Trabalho da 21ª Região (Amatra21) e o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho da 21ª Região Gleydson Gadelha. Em comum, ambos foram alunos de graduação da professora Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de Castro.
“Não existe coincidência melhor do que um professor ser magistrado e um magistrado ser professor. Através da discussão e do ensinamento, principalmente em uma Corte, a gente discute, aprende todo dia e ensina um ao outro. Aqui, a desembargadora nos mostrou como ler os detalhes, os erros que nenhum de nós tinha visto. Por nos ensinar pela sua prática, muito obrigado”, disse o procurador-chefe do MPT/RN, que revelou que “até a última sessão feita, nós discutimos teses jurídicas de alta profundidade, com a vantagem da maturidade e do tempo”.
“Esse é um momento de despedida e uma solenidade tem o poder de ressignificação. Além de fazermos o reconhecimento de uma carreira de 40 anos dedicada à Justiça do Trabalho, temos a oportunidade de celebrar a pessoa que é a desembargadora Perpétuo Wanderley. É importante reconhecer e valorizar as pessoas que estão perto, mesmo quando nos acostumamos com seu brilhantismo e capacidade”, disse Cacio Manoel, que lembrou da atuação em sala da desembargadora.
“Todos que tiveram oportunidade de ser alunos dela sabem o preciosismo e a qualidade da suas aulas, da sua contemporaneidade em relação aos conhecimentos jurídicos e a capacidade de provocar o senso crítico e a possibilidade de raciocinar juridicamente”, disse o presidente da Amatra21.
Característica notada ainda seu discurso quando Perpétuo Wanderley deixou uma última lição: “A magistratura é o conhecimento e o reconhecimento dos dramas humanos. Um processo não é apenas uma pessoa, é uma vida que está ali. É alguém que espera uma decisão que, muitas vezes, não chega a tempo. É vida humana. E é a perspectiva que delineou o meu trabalho. Agradeço a todos do TRT-RN, incluindo pessoal requisitados e os terceirizados, de quem muitas vezes recebi gestos de atenção e delicadeza. Agradeço também a equipe da Escola Judicial, que estiveram comigo em momentos de aflição, de decisão, de muitos não, mas muitos sim que ficam na nossa memória”, celebrou a decana, agora aposentada.
Advocacia
Representando a advocacia trabalhista local, o presidente da OAB RN, Carlos Kelsen, destacou o pioneirismo, o zelo na atuação e a busca pela Justiça Social da magistrada. “Vossa excelência sempre vai ser considerada um grande exemplo. Assim, peço, em nome da advocacia, que a senhora transforme a sua história em livros para que a juventude use seu exemplo como fonte de inspiração e de aprendizado para a vida”, sugeriu.
Bastante emocionado, o servidor Francisco Gilson Vieira, representante da Associação dos Servidores da Justiça do Trabalho da 21ª Região (Astra 21) lembrou que a desembargadora Perpétuo Wanderley faz parte da composição original da 21ª Região.
“Lembro da primeira sessão deste tribunal, que foi presidida pelo desembargador José Rocha com a presença da desembargadora Perpétuo. Parece que estou vendo um filme agora. A história do tribunal se confunde com a história da desembargadora Perpétuo e, em nome dos servidores, agradeço todo apoio, pois sempre manteve as portas abertas da Presidência, sempre ouviu nossos pleitos quando foi presidente”, disse.
Placa
Ao final da solenidade, o presidente do TRT-RN descerrou a placa em comemoração pela última presidência exercida pela desembargadora Perpétuo Wanderley, de 2021 a 2023. A magistrada ainda foi homenageada com flores presenteadas pela Corte, por familiares e servidores (as) e ex-servidores (as) do Gabinete.